Produção Artística
Alfredo Andersen não se dedicou somente à pintura, embora tenha se destacado pelos trabalhos realizados com esta técnica.
Apesar de Andersen manter uma constância de imitação do natural em suas pinturas e desenvolver uma linguagem em suas representações entre os estilos europeus do final do século XIX (particularmente mesclando características do Romantismo, Realismo e Impressionismo), suas fases criativas são marcadas por tratamentos pictóricos distintos e temáticas diversas. Por causa disso, sua produção artística pode ser basicamente dividida em três fases: período norueguês (1873-1892), período litorâneo (1892-1902) e período curitibano (1902-1935).
O período norueguês (1873-1892) é marcado pela representação da vida urbana e rural, por retratos de afeição e cenas de gênero em ambientes interiores. O tratamento compositivo e superficial é rígido, no qual se percebe o desenho estrutural e definidor das formas além de uma grande quantidade de elementos visuais para caracterizar o tema. Na maioria dos trabalhos dessa fase observa-se o emprego de uma paleta composta por tonalidades pouco luminosas.
Por sua vez, o período litorâneo (1892-1902) é marcado por cenas marinhas (na maioria costeiras), por retratos de encomenda e cenas de gênero ambientadas em espaço externo, nas quais se nota uma maior aproximação do artista com o tema. Nas obras dessa fase nota-se uma melhor exploração das possibilidades de composição do espaço, uma soltura maior no tratamento pictórico, e o uso de tonalidades mais claras na exploração dos efeitos naturais de luz.
A última fase, chamada de período curitibano (1902-1935), apesar de caracterizada por uma maior pluralidade temática, é na qual o estilo de Andersen mostra-se mais maduro. A soltura de tratamento adquirida no período litorâneo encontra a quantidade de elementos da primeira fase, e as composições tornam-se mais complexas e ousadas. Família e amigos aparecem com maior frequência como modelos na representação de cenas de gênero, a pincelada torna-se mais solta e Andersen parece mais interessado na representação da luz do que do tema.
De modo geral é possível dizer que Andersen foi um pintor de retratos, paisagens e cenas de gênero. O historiador da arte José Roberto Teixeira Leite (1989) afirma:
O artista [Alfredo Andersen] praticou todos os gêneros, destacando-se como paisagista, intérprete sensível e pessoal da natureza paranaense, e como pintor de figuras. Em sua mocidade, tocado pelo Simbolismo, que lhe motivaria algumas de suas melhores composições, Andersen pouco a pouco deixou sua orientação original, trocando-a por agudo senso de observação e por acentuado amor à realidade. Espontâneo e vigoroso no pincelar, colorista sensível, sua obra é um caso único de aclimatação cultural de um artista escandinavo em terra brasileira.
Retratos
Os retratos que realizou dividem-se em três grupos: retratos de encomenda, retratos afetivos e autorretratos. Os retratos por encomenda, como é de se esperar, enaltecem o caráter público do retratado, particularmente quando este tinha certa importância social – como profissionais liberais e políticos. Nesses retratos Andersen apresenta uma abordagem mais sóbria, com pinceladas precisas, tons pouco luminosos, fundo normalmente escuro ou de cenário idealizado e a abordagem da figura variando de busto a corpo inteiro. Nos retratos afetivos nota-se certa união do retratado com o ambiente, uma maior aproximação física do artista com o modelo e o uso de tonalidades mais luminosas. Nos autorretratos observa-se uma preocupação de Andersen em caracterizar seu papel social como artista e, ao mesmo tempo, em expressar um caráter afável. Nesses três tipos de retrato observa-se que Andersen pouco usou da distribuição do retratado em posição de enfrentamento do observador, e quando aquele olha para o observador, parece fazê-lo muito mais numa postura de reconhecimento e simpatia do que de superioridade e distanciamento.
Paisagens
As paisagens que pintou também podem ser divididas em três grupos: marinhas, campestres e urbanas. As paisagens marinhas mostram normalmente uma vista do artista situado na costa, onde a variedade de tons do céu, os elementos humanos e a civilização ganham maior destaque. As paisagens campestres ganham tratamento similar, mas o destaque que Andersen lega ao ser humano e suas construções muitas vezes é maior, o que coloca algumas dessas obras muito mais próximas de cenas de gênero de exterior. Por sua vez, as paisagens urbanas de Andersen apresentam composições de planos mais complexas, onde se percebe a clara inclusão do artista no cenário, e cenas de gênero enquadradas por elementos arquitetônicos. As paisagens de Andersen tendem a ser obras luminosas, pois muitas delas foram captadas defronte à natureza.
Cenas de Gênero
Em quantidade, as cenas de gênero são as obras de melhor qualidade de Andersen. Nelas, observa-se uma ousadia maior na composição e no uso da luz, um tratamento pictórico mais solto, com pinceladas mais curtas e formas abertas, além de uma maior segurança na abordagem do tema.
A historiadora da arte paranaense Adalice Araujo explica que:
É nas cenas de gênero que vamos encontrar as mais espontâneas criações de Alfredo Andersen. Sem qualquer preocupação de agradar ao possível consumidor, as emoções puras que brotam dos gestos e das cenas do cotidiano constituem para o artista perene fonte de inspiração.