Documentário sobre discípulo da família Andersen estreia em 2025 24/01/2025 - 15:19
Nesta segunda-feira (20) os corredores do MCAA foram ocupados por três pessoas que colocam à prova a influência geracional da arte, e como ela transforma vidas. Em uma manhã de gravações, contações de história e conversas com o diretor Luís Gustavo Vidal e a coordenadora Cristiane Kusmann, uma parte da família Schuck descobriu detalhes sobre a história familiar que antes era desconhecida. Foi a primeira vez que o casal Fernando e Josi Schuck, juntamente com o filho Gyan, estavam juntos no espaço que, há mais de oito décadas, mudou a vida de Lauro Schuck e as gerações que viriam a existir.
Desde Porto Alegre, passando por Passo Fundo, Sertão, Cascavel, até chegar em Curitiba, Fernando remonta a trajetória de vida do pai, Lauro Schuck, pintor e desenhista gaúcho que já demonstrava seu talento artístico desde a infância e dedicou sua vida à produção artística. Filho de imigrantes alemães, Lauro nasceu em 1925 e sempre mostrou-se interessado em retratar o campo. Fazia desenhos com carvão nas paredes de casa e estatuetas de argila. O menino tímido do distrito de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, utilizava o desenho como sua principal linguagem.
Após completar o colégio, Lauro decide se mudar para a capital paranaense em busca de novas oportunidades. É durante sua estada em Curitiba, de 1943 a 1949, que ele conhece outro artista capaz de abrir portas e possibilidades para sua vida: Thorstein Andersen, filho de Alfredo Andersen. Nesta época, Thorstein utilizava a casa como residência própria e também continuava o legado de seu pai como professor de desenho, pintura e escultura. Entre 1943 e 1945, foi Thorstein quem ensinou Lauro a pintura à base de óleo, algo que revolucionou a produção artística do gaúcho. No entanto, tamanho era o destaque de Lauro em suas obras que, em pouco tempo, tornou-se assistente de Thorstein, auxiliando em obras e no próprio ensino. A escola de desenho e pintura de Alfredo Andersen foi o único lugar em que Lauro Schuck estudou pintura em toda sua vida.
Lauro Schuck teve 7 filhos e sustentou sua família com seu trabalho artístico. Além das obras exclusivas de sua autoria, fazia retratos por encomenda e fotos retocadas, algo que Andersen também realizava. Lauro amava seu ofício e seu filho Fernando tem memórias do pai pintando até pouquíssimo tempo antes de falecer, em 2007, devido a um câncer identificado tardiamente. A família estima que as obras de Schuck são de aproximadamente 2.500 quadros espalhados pelo mundo, mas com destaque no Brasil e Estados Unidos, devido às obras sacras encomendadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja Mórmon), ao qual Lauro era um membro ativo.
Aproximando-se do centenário de Lauro Schuck, que será em julho de 2025, Fernando e Josi decidiram produzir um documentário que resgata a memória do artista e também a história da própria família Schuck. Fernando, formado nas áreas de História e Filosofia e atualmente parte do setor administrativo da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), conduz as entrevistas. Josi, assume o papel de direção do documentário, a partir das descobertas e experiências adquiridas em sua segunda graduação em Produção Audiovisual na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Quem acompanha o casal auxiliando com a gravação do documentário é Gyan, segundo filho do casal.
Passando pelos principais lugares da vivência artística de Lauro, a família fez questão de gravar no Museu Casa Alfredo Andersen. “Meu pai nem sabia se o lugar ainda estava de pé, mas sempre falava com muito carinho sobre as experiências que viveu aqui”, afirma Fernando. Durante toda a manhã da última segunda (20) a família se dedicou a conhecer o espaço, contar sobre a história de Lauro e ver as obras de Thorstein e Alfredo Andersen. A comparar as pinturas, a família se surpreendeu ao ver de forma clara a inspiração em Andersen presentes nos quadros de Lauro.
“É maravilhoso ver em quem meu sogro se inspirava na utilização de cores, sombras e pinceladas. Ele é realmente filho desta escola”, disse Josi. Dentre as obras de Lauro Schuck, pode-se observar paisagens que se inspiram nas montanhas azuis e araucárias de Andersen, além dos retratos. O prodígio de Passo Fundo foi para a cidade de Curitiba para obter mais oportunidades e o que conseguiu foi uma nova forma de olhar o mundo.
O Museu Alfredo Andersen existe como espaço de preservação da arte paranaense, mas também como continuação do legado de ensino, com a Academia Alfredo Andersen. Ao observar o museu, Josi destaca: “A valorização da história aqui no museu é algo único. Em um país onde vemos tanto apagamento no centro histórico, ter este lugar tombado, conservado e reformado, é uma alegria imensa”.
Observando a árvore genealógica da pintura no Paraná, percebe-se que Alfredo Andersen ensinou os mais diversos artistas que se espalharam pelo Brasil e pelo mundo. Lauro Schuck, Thorstein Andersen, Theodore De Bona, Gustavo Kopp, Isolde Hötte Johann, Maria Amélia D’Assumpção e Raimundo Jaskulski foram alguns dos diversos artistas que aprenderam com o mestre Andersen, e suas gerações continuam a celebrar a arte do pai da pintura paranaense.
Na família de Lauro Schuck, Alexandre, o quinto filho, foi o único a seguir o caminho de pintor e desenhista como o pai, porém, com a realização do documentário, percebe-se o valor que as diferentes formas artísticas possuem em preservar a memória e resgatar a história da arte brasileira.
O documentário “As cores e as luzes de Lauro Schuck”, título provisório, terá sua estreia em maio de 2025 e será disponibilizado on-line após a temporada de festivais em que está sendo divulgado. Contando com mais de 60 anos de carreira artística, Lauro Schuck deixa sua marca também na história do Museu Alfredo Andersen.