MCAA recebe obras de José Daros, aluno de Andersen notório pelos seus retratos 16/03/2022 - 10:08

 

Dona Anagir Daros, nora de José Daros, não economiza nos elogios para falar do finado sogro, homem que acumulava atributos e atribuições como os hoje míticos homens renascentistas. “Ele era professor dedicado, dava aulas de música e desenho, mas era também um barítono, escultor e pintor”, conta ela na manhã desta terça-feira (15), enquanto entregou em comodato ao Museu Casa Alfredo Andersen dez quadros, um busto e um relevo do artista, parte do acervo que ainda está em posse dela e da filha Juliana.

As obras, como os nomes indicam, envolvem boa parte de retratos de familiares e parentes, mas não apenas. São elas: Saudades de Papai, Joenio Mendonça, Silvia Rosa Mendonça, Ildefonso Contador, Lucia Daros Contador, Dr.Virmond, Os irmãos: Alberto, Pedro e Aida Daros, Sr. Antonio Daros, Sra. Rosa Daros, Francisco Braga e Autorretrato de José Daros. Além deles, um busto de D. Rosa Daros e um relevo de J. Braga.

Daros foi aluno de Alfredo Andersen, o que justifica a entrega em comodato ao MCAA. Segundo Anagir, “Andersen foi o mestre dele, que o incentivou a retratar as pessoas e dizia que ele tinha um dom para isso”. E, de fato, boa parte das obras que foram encomendadas eram justamente retratos. “Os retratos eram pagos, mas as paisagens e naturezas mortas eram dadas como presente” conta a nora do pintor. “Ele gostava de presentear as pessoas.” Entre suas amizades notórias estiveram figuras importantes da arte brasileira como Poty Lazzarotto e Cândido Portinari.

As obras foram entregues ao MCAA em comodato por um ano. Depois desse período, caso ainda seja o desejo da família, elas se integrarão ao acervo do museu. “Eu me sinto muito feliz e realizada, sabendo que ele está no lugar que ele queria estar”, diz Dona Anagir sobre a ida das pinturas e esculturas de Daros para o MCAA. “Estou trazendo para cá porque é o melhor lugar que ele poderia estar”, completa.

Dona Anagir diante do quadro de Daros
Dona Anagir diante do quadro de Daros


Retratista no Louvre
Com apenas 30 anos, Daros chegava ao Louvre, um dos espaços museais mais conhecidos (e disputados) do mundo. E, além disso, chegava com uma modalidade da pintura que é, como o texto do jornal apontava, particularmente difícil. 

Em abril de 1928 o jornal Diário da Tarde publicou a seguinte nota: “encontra-se exposto numa das artísticas mostras do Louvre um formoso trabalho do pintor contemporâneo J. Daros. O trabalho exposto (...) tem sido bastante apreciado. Demonstra a evolução do jovem artista nosso na difícil arte do retrato”. 

O escritor Odilon Negrão chegou a apontar que "o pendor mais acentuado de Daros é, sem dúvida, para o retrato. Ao lado da reprodução física do retratado, ele ainda empresta à figura um não sei quê de imaterial, parecendo haver um laivo de vida na imagem". Luiz Gustavo Vidal, diretor do MCAA, concorda com a crítica: “cada artista escolhe algo para se especializar, e ele destaca o olho querendo destacar o olhar do retratado”.

A vivacidade dos retratos de Daros é tamanha que se tornou uma história familiar e que de alguma forma foi incorporada ao acervo, como conta Dona Anagir. O quadro “Saudades de Papai” (veja na galeria abaixo) é justamente a reprodução do momento em que, preocupada com os filhos, que não viam o pai há muito tempo, sua esposa os coloca diante de um de seus autorretratos. Nessa pintura ainda é possível ter uma ideia de como era o atelier de Daros.
 

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